"É um recuo. Um regresso à Constituição de 1959. O regresso ao poder absoluto de um só homem contra quem foi feita uma revolução", declarou Ghannouchi, 80 anos, em entrevista à agência noticiosa AFP.

"Hoje, a única opção é a luta, naturalmente a luta pacífica, porque somos um movimento civil. O Ennahdha e outros partidos da sociedade civil vão bater-se para recuperar a sua Constituição e a sua democracia", acrescentou o chefe histórico da formação islamita moderada.

O Presidente tunisino Kais Saied, que elegeu o Ennahdha como o seu principal rival político, formalizou na quarta-feira o seu "golpe de força" de 25 de julho ao promulgar disposições excecionais que reforçam os seus poderes em detrimento do Governo e do parlamento, ao qual se vai substituir na prática ao legislar por decretos.

Estas disposições "são um golpe de Estado movido contra a democracia, contra a revolução [de 2011] e contra a vontade do povo", considerou ainda.

"Já apelámos ao nosso povo para se juntar a todas as ações pacíficas que combatam a ditadura e façam regressar a Tunísia à via democrática", prosseguiu Rached Ghannouchi.

Segundo referiu, o Ennahdha, a principal força do parlamento suspenso por Saied, "vai participar em toda a mobilização pacífica para que a Tunísia regresse ao caminho da democracia".

As medidas decididas por Saied, destinadas a fornecer um cariz presidencialista a um sistema de governo híbrido e previsto na Constituição de 2014, suscitaram a forte oposição dos seus adversários, em particular o Ennahdha, num país minado nos últimos anos por divisões e crises políticas sucessivas.

A opção do Presidente também reforçou as inquietações sobre a fragilidade da democracia na Tunísia, que esteve na origem da Primavera árabe com a revolução de 2011, e o único que garantiu uma transição democrática apesar de um cenário político profundamente fragmentado e instável.

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