Casou aos 10 anos, foi abusada e obrigada a fugir sem os filhos: mulheres vivem “pesadelo” no Afeganistão

Mahtab Eftekhar, uma mulher afegã de 26 anos, partilhou a sua história marcada por tragédias e resistência contra o regime opressor Talibã. Originária do Afeganistão, Mahtab viveu uma infância e uma vida adulta marcadas pela violência, abuso e perdas irreparáveis.

Aos 10 anos, Mahtab foi surpreendida por um destino cruel: o seu próprio casamento, arranjado pela família, sem o seu consentimento. “Foi o início de um pesadelo agonizante que destruiu a minha infância e vida adulta,” relata Mahtab ao The Guardian, lembrando-se daquela noite em que descobriu que havia sido vendida pela própria família por 40.000 Afghanis.

O abuso continuou ao longo dos anos, resultando em duas filhas prematuras e doentes, ambas perdidas tragicamente. Mesmo após tentar fugir para proteger a sua terceira filha, o ciclo de abuso persistiu. “O medo de perder os meus filhos impedia-me de sair ou pedir o divórcio,” desabafa.

A mudança para Cabul trouxe uma esperança renovada para Mahtab e a sua filha, Zahra. “Cabul apresentou um novo começo e melhores oportunidades, especialmente para a minha filha,” diz Mahtab, lembrando-se dos esforços para proporcionar uma educação para Zahra. No entanto, com a ascensão do Talibã em 2021, as portas fecharam-se novamente.

O pesadelo de Mahtab atingiu um ponto crítico quando ela procurou ajuda contra os abusos do marido. Em vez de apoio, enfrentou acusações de adultério e foi espancada pelos talibãs. “Eu sentia-me como se o mundo inteiro estivesse contra mim,” desabafa Mahtab.

Mesmo após o divórcio, a batalha de Mahtab para proteger os seus filhos continuou. O seu filho foi levado de volta para Helmand, deixando-a desolada. “Eu não tinha mais motivos para viver,” diz Mahtab, lembrando-se da dor de perder os seus filhos e da sua luta pela justiça. Hoje, afastada dos filhos, vive em relativa liberdade, no Irão.

“Tenho agora 26 anos e perdi tudo: a minha infância, a minha juventude, a saúde e os meus filhos. No entanto, estou grata por ter encontrado minha voz. No Irão, ganho a vida a trabalhar numa alfaiataria e, ao mesmo tempo, defendendo e amplificando as vozes das mulheres no meu país”, sublinha.

Apesar das adversidades, Mahtab encontrou uma nova vida, onde agora trabalha e luta pelos direitos das mulheres. “Não tenho medo de morrer nesta jornada pela justiça. Prefiro abraçá-la, sabendo que serei um exemplo para milhares de mulheres que enfrentam dificuldades semelhantes,” declara Mahtab, inspirando esperança e coragem.

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