"O diálogo é o melhor caminho para que possamos avançar", disse Rodrigo Maia em conferência de imprensa em São Paulo, ao lado do governador desse estado, João Doria, adversário político de Bolsonaro, com quem se tem debatido desde o início da pandemia, numa polémica que se agravou com a vacina.

O Governo de São Paulo aliou-se à Sinovac para coordenar a última fase dos ensaios clínicos da chamada "Coronavac" em território brasileiro, e assinou um contrato que incluiu a aquisição e distribuição de 46 milhões de doses do imunizante.

Por sua vez, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou na última terça-feira a intenção do Governo central de comprar mais 46 milhões de doses da fórmula chinesa, ainda em estudo e que terá de ser aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o seu uso no Brasil.

Porém, um dia depois, Bolsonaro desautorizou o seu ministro, através das redes sociais, e vetou a compra da "Coronavac", argumentando que o imunizante ainda nem sequer havia superado a fase de testes clínicos.

A recusa do chefe de Estado brasileiro contrasta com um outro acordo - firmado pelo seu governo com a Universidade de Oxford e com o laboratório AstraZeneca - para a compra de 100 milhões de doses da vacina, que ambas as instituições desenvolvem e que se encontra na mesma fase de estudos que o imunizante da Sinovac.

Bolsonaro, que se mostra cético em relação à gravidade da pandemia e se declara anticomunista, também determinou que a vacinação contra a covid-19, que já causou quase 156 mil mortes e mais de 5,3 milhões de infetados no Brasil, não será obrigatória.

Toda a situação gerou uma forte polémica no país e transformou a distribuição da futura vacina numa batalha altamente politizada entre o chamado "Bolsonarismo" e a oposição, tanto conservadora quanto de esquerda.

Nesse sentido, Ricardo Maia, que foi diagnosticado com a covid-19 e que já superou a doença após perder "10 quilos em sete dias", segundo relatos do próprio, destacou que é "fundamental" que o diálogo flua entre as esferas de poder para enfrentar a crise da saúde e organizar a eventual aplicação da vacina.

Maia acredita assim que Bolsonaro será sensível a este assunto e manterá a mesma disposição de diálogo que teve nas últimas semanas com o Congresso.

"A vacina é essencial e podem contar com a Câmara dos Deputados" para que se restabeleça esse "bom diálogo" com o ministro Pazuello e o Presidente Bolsonaro, frisou.

"Os brasileiros precisam de ter direito a essa ou a qualquer outra vacina que esteja pronta", acrescentou.

Por sua vez, Doria afirmou que a Anvisa, órgão que terá a última palavra para o registo de potenciais vacinas contra a covid-19, garantiu que "não será submetido a nenhum tipo de pressão" do Governo de Bolsonaro, sejam estas "políticas, partidárias ou eleitorais".

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 41,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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