Abuso sexual de menores: Mais de metade dos crimes no último ano foram cometidos por familiares

Segundo dados avançados pelo diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária (PJ), Carlos Farinha, mais de metade dos crimes sexuais contra menores investigados pela PJ em 2023 ocorreram dentro do seio familiar. Cerca de 51% dos casos de abuso sexual de menores ocorreram em contexto familiar, enquanto aproximadamente 65% envolveram pessoas do círculo habitual das crianças, como vizinhos, professores, treinadores, entre outros.

O responsável descreve ao Jornal de Notícias que a maioria dos crimes acontece em contextos próximos, seja familiar, geográfico ou funcional. E inclui não apenas pais e familiares diretos, mas também vizinhos, professores e outros adultos em quem as crianças confiam. A PJ está atenta a todas as sinalizações, independentemente da origem, e está a desenvolver ferramentas para categorizar melhor a perigosidade das situações reportadas.

De acordo com os dados a criminalidade sexual em geral (adultos e crianças), representa cerca de 10% dos crimes investigados pela PJ e “65% a 70% desses casos dizem respeito a abusos sexuais de menores”.

O perfil das vítimas geralmente inclui crianças do sexo feminino, com idades entre os 8 e os 13 anos. Quanto aos agressores sexuais de menores, embora haja uma variedade de perfis, a maioria são homens entre os 31 e os 50 anos. Não existe um perfil social específico para esses agressores, sendo transversal a várias classes sociais.

Além dos casos presenciais, tem havido um aumento significativo dos crimes sexuais no ambiente virtual, especialmente durante a pandemia de covid-19. A utilização massiva das redes sociais por parte de menores tornou-os vulneráveis a predadores sexuais online, muitas vezes através de partilha de imagens íntimas. A PJ destaca a importância da cooperação internacional para detetar e combater situações de conteúdos pedopornográficos online.

“Esse é o terreno onde se alimentam os casos de abusos”, sublinha Carlos Farinha.

O diretor nacional adjunto também alerta para o aumento dos casos de submissão química, onde substâncias químicas são adicionadas às bebidas das vítimas com o intuito de as deixar inconscientes. Este tipo de crime ocorre sobretudo em ambientes de festas de jovens e apresenta desafios adicionais para investigação devido à janela estreita para detetar a presença de substâncias tóxicas.

Perante estas tendências preocupantes, Carlos Farinha apela aos pais e educadores para criarem canais de diálogo com os menores, para que estes não se encontrem em situações de segredo e isolamento online, tornando-se alvos fáceis para abusadores. A rápida sinalização de situações de criminalidade sexual é essencial para uma investigação eficaz, pois permite a recolha de indícios e sinais biológicos importantes nas primeiras horas após o crime.

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