[weglot_switcher]

“A extrema-direita está a utilizar o ressentimento, o medo e o ódio para pôr em causa o projeto europeu”

Com o Dia da Europa, esta quinta-feira, e as eleições europeias a avizinharem-se, Ana Catarina Mendes considera que é “absolutamente essencial que a União Europeia volte a afirmar-se como uma força geopolítica muito relevante”. A antiga ministra é o terceiro nome do PS na lista para as europeias e promete ser “sempre uma feroz defensora da democracia e das melhores condições de vida para os portugueses”.
7 Maio 2024, 07h30

O Dia da Europa celebra-se esta quinta-feira, dia 9 de maio, num contexto particularmente desafiante para o projeto europeu. Assim, 74 anos depois, são muito os desafios que ameaçam colocar em causa a união dos Estados-membros, desde logo começando pela prolongada guerra na Ucrânia, mas também os desafios impostos pelas alterações climáticas, a corrida tecnológica e até o posicionamento da União Europeia no mapa geopolítico mundial. Por todos estes motivos, as eleições europeias do próximo dia 9 de junho assumem uma importância como já não se via há muitos anos.

Numa conversa com o Jornal Económico, Ana Catarina Mendes, candidata do PS ao Parlamento Europeu nas próximas eleições europeias, não tem dúvidas em afirmar que 74 anos depois “vale a pena continuar a apostar no projeto europeu”. No entanto, frisa que deve-se “olhar para o projeto europeu com os desafios que tem hoje”.

“Julgo que o principal desafio que [o projeto europeu] tem neste momento e no atual contexto geopolítico que vemos, com uma guerra às portas da Europa, com a possibilidade de voltarmos a ter Donald Trump nos Estados Unidos, com a guerra no Médio Oriente, é que é absolutamente essencial que a União Europeia volte a afirmar-se como uma força geopolítica muito relevante no que vai ser o mundo nos próximos tempos”, diz a antiga ministra, que é a número três do PS na lista para as eleições europeias.

Com a extrema-direita a crescer em vários países do bloco europeu, a ex-ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares do Governo de António Costa, Ana Catarina Mendes, salienta ainda que é preciso pensar “de que forma é que a União Europeia se pode defender dos ataques dos eurocéticos”, referindo que “por toda a Europa, a extrema-direita está a utilizar o ressentimento, o medo e o ódio para pôr em causa o projeto europeu”.

74 anos depois, como encara o Dia da Europa tendo em conta o momento que estamos a viver?

A primeira nota é que 74 anos depois vale a pena continuar a apostar no projeto europeu, mas com os desafios que tem hoje. Julgo que o principal desafio no atual contexto geopolítico (com uma guerra às portas da Europa, com a possibilidade de voltarmos a ter Donald Trump nos Estados Unidos, com a guerra no Médio Oriente) é que é absolutamente essencial que a União Europeia volte a afirmar-se como uma força geopolítica muito relevante no que vai ser o mundo nos próximos tempos. Isso tem a ver com a necessidade de maior aposta no desenvolvimento económico, tecnológico e científico. Na agenda climática, é absolutamente essencial que possamos tornar-nos autónomos, e a guerra da Ucrânia mostrou a evidência de como precisamos de ser autónomos, por exemplo, no gás natural. Por isso, foi tão importante aquilo que Portugal defendeu muito recentemente no anterior Governo socialista, com a necessidade do corredor europeu de gás natural, de forma a não ficarmos dependentes. O reforço e a aposta nas energias renováveis para não dependermos de outros países e termos autossuficiência. O reforço da nossa segurança, seja a segurança nas nossas fronteiras, e por isso a aposta na defesa e naquilo que deve ser o olhar sobre a defesa e como nos movemos neste contexto político. A segurança alimentar, que tem diretamente que ver com as alterações climáticas. No fundo diria que os próximos anos da União Europeia são de reafirmação do projeto europeu na componente democrática, de paz e liberdade; de reforço do projeto europeu na componente da transição tecnológica e do reforço do nosso desenvolvimento científico e tecnológico, e, logo, empregos qualificados, melhores salários, maior justiça social; e do reforço da nossa independência, ou autonomia, ambiental, no fundo, acompanhado aquilo que devem ser as transições para as renováveis e para outras fontes de energia; e por último, é absolutamente essencial que a Europa encontre nos próximos anos novas fontes de financiamento, para garantir também maior independência e maior afirmação no espaço geopolítico internacional.

Como analisa o momento que a União Europeia atravessa, num contexto marcado pela guerra na Ucrânia, que se tem prolongado? Com as eleições europeias à porta, é cada vez mais importante que se fomente a união deste bloco?

É absolutamente essencial. Há, aliás, uma campanha muito interessante do Parlamento Europeu sobre o que deve ser a União Europeia, lembrando os avós do Holocausto, e dizendo aos mais jovens que a democracia é possível, a segurança é possível, a liberdade é possível e a paz também. É por isso que é preciso olhar para este conflito na Ucrânia condenando e continuando a condenar a atitude de Vladimir Putin relativamente à Ucrânia, defendendo a Ucrânia e pensando de que forma é que a União Europeia se pode defender dos ataques dos eurocéticos. E esses ataques dos eurocéticos vêm dos mais extremistas. Por toda a Europa, a extrema-direita está a utilizar o ressentimento, o medo e o ódio para pôr em causa o projeto europeu. Por isso, diria que mais do que nunca, 74 anos depois, e com uma guerra às portas da Europa, como a da Ucrânia, é absolutamente essencial que a União Europeia seja mais unida, permita-me o pleonasmo. Que consigamos ser mais fortes, que superemos as nossas divergências, mas que possamos convergir naquilo que me parece essencial, que foi aquilo para que foi criado este projeto, que do meu ponto de vista teve sucesso ao longo dos anos e que tem de continuar a ter, que é o projeto da união política União Europeia.

O que podemos esperar de si no Parlamento Europeu?

Os portugueses podem contar comigo para o que sempre contaram. O meu empenho total na defesa das instituições e na defesa da democracia, e o Parlamento Europeu é por excelência o órgão democrático da União Europeia. Serei uma voz que não se calará perante o que está a acontecer à imigração e aos fluxos migratórios. A Europa confronta-se com um dilema imenso de demografia e precisa dos cidadãos estrangeiros, mas os cidadãos estrangeiros que recorrem à União Europeia, recorrem porque fogem da fome, da miséria, da guerra ou das ditaduras. Temos de saber ter um olhar humanista e de respeito pelos direitos humanos destas pessoas, e saber integrá-los. Aquilo que defendi sempre em Portugal, que é uma política de integração e de acolhimento, continuarei a ser uma voz ativa no Parlamento Europeu para isso. Mas julgo que o Parlamento Europeu está confrontando com vários desafios desde logo de governação económica, onde é preciso uma voz, seja porque é necessário encontrarmos novas fontes de financiamento, seja porque as regras que foram aprovadas na semana passada, as novas regras de governação económica, precisam de ser implementadas e precisam de garantir que os Estados não são penalizados perante um défice excessivo, ou que podem ser e devem ser encontradas as soluções, como foi encontrada para a pandemia ao nível do PRR, ou ao nível das vacinas, ou ao nível do que foram os cuidados de saúde necessários para dar às pessoas. Estamos num momento de incerteza. É nesta incerteza que vamos encontrar o novo Parlamento Europeu, mas serei sempre um feroz defensora da democracia e das melhores condições de vida para os portugueses.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.