"Neste país, com o nível de tolerância que existe, não há motivo para as pessoas andarem armadas. Não há! Só o facto de termos dito 'devolvam as armas sozinhos', isso é tolerância que até excede os limites", disse o chefe de Estado hoje em Maputo junto de membros do seu partido, acrescentando que "é essa a tolerância que o povo já está a transbordar a paciência".

Sem se referir diretamente à oposição da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), no encontro com membros da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) para celebrar os 57 anos do Presidente da República, assinalados na terça-feira, Nyusi avisou que o seu Governo não vai continuar a tolerar "coisas que fazem mal ao povo".

Falando implicitamente da violência política no país, o chefe de Estado estabeleceu uma comparação com um leão à solta que foge de um parque e começa a comer pessoas.

"É verdade que o leão tem de ser protegido lá no parque, mas quando começa a comer pessoas esse já não é leão para ser protegido", declarou o Presidente moçambicano, assegurando que não permitirá que "leões andem à solta".

Filipe Nyusi afirmou que "não há país na região que deixe uma pessoa com arma a andar na estrada" e que Moçambique tem de deixar de ser "um lugar estranho de pessoas estranhas", reiterando o apelo para a entrega de armamento e retoma da confiança e do diálogo.

"Tenho sempre sentido de otimismo. Qualquer dia alguém vai dizer de facto 'vamos lá tomar nosso café juntos, até vamos discutir', porque discutindo sem desconfianças, sem armas, sem medo, soluções vão sair para este país", salientou.

O Presidente da República insistiu porém que, havendo armas, não existirá confiança.

"O problema da confiança parte na altura em que você esta armado. Ninguém tem certeza do que vai fazer com essa arma. Essa arma que você tem vai fazer o quê?", questionou o chefe de Estado, observando que Maputo é o exemplo de como as pessoas podem estabelecer rotinas sem medo que justifique cidadãos em posse de armamento.

Nos últimos meses, Moçambique tem conhecido um agravamento da violência política, com relatos de confrontos entre o braço militar da Renamo e as forças de defesa e segurança, além de acusações mútuas de raptos e assassínios de militantes dos dois lados.

O presidente da Renamo não é visto em público desde 09 de outubro, quando a polícia cercou a sua residência na Beira, alegadamente numa operação de recolha de armas, no terceiro incidente grave em menos de um mês envolvendo a comitiva do líder da oposição.

No dia 20 de janeiro, o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado por desconhecidos no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, província de Sofala, centro de Moçambique e o seu guarda-costas morreu no local, num caso que continua por esclarecer.

Apesar da disponibilidade para negociar manifestada pelo presidente moçambicano, Filipe Nyusi, o líder da Renamo diz que só dialogará depois de tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

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