A posição vem expressa na Declaração sobre a Crise Económica e Financeira, que Angola enfrenta desde o ano passado, documento a que a Lusa teve hoje acesso e que resultou da reunião, realizada a 20 de janeiro, pelos sindicatos filiados na CGSILA.

Na reunião, estes concluíram "com profunda tristeza" que o atual cenário macroeconómico resultante da baixa do preço do petróleo e a ausência de políticas concretas e eficazes não estão a atenuar "os efeitos devastadores na vida dos trabalhadores e famílias".

Perante este quadro, a CGSILA reiterou o seu compromisso "solene" na defesa dos interesses e direitos fundamentais dos trabalhadores angolanos, não obstante as adversidades conjunturais, mostrando-se "preparada para promover uma luta incessante com ações reivindicativas como meios de pressão ao Governo".

No documento, a central sindical refere que a presente crise económica e financeira está a degradar as condições básicas dos trabalhadores face à subida de preços dos produtos básicos alimentares, dos combustíveis, das propinas no ensino privado, dos transportes públicos e prestação de serviço.

"A desvalorização da moeda nacional, o kwanza, o aumento da inflação reduzem para pior o poder de compra dos trabalhadores, tornando a vida das famílias angolanas mais miserável do que nunca se tinha visto nos últimos 10 anos", lê-se ainda na declaração.

A CGSILA faz também referência a constatação no país da falência de empresas públicas e privadas, promovendo assim o crescente desemprego, que já atinge dezenas de milhares de trabalhadores, cujas consequências são a redução drástica do consumo, da produção e da produtividade, com reflexo imediato na economia do país.

Acrescenta ainda que o fenómeno de redução dos salários dos trabalhadores nas empresas privadas, o atraso no pagamento dos salários na função pública, aliado a um descontrolo patente de fiscalização dos preços dos produtos alimentares nos centros comerciais e demais serviços, além de incertezas sobre o futuro, "faz hoje do trabalhador angolano um desprezível servidor".

A central sindical avança que as ações reivindicativas a que se propõem promover têm como objetivo obter do Governo uma resposta do memorando que a CGSILA enviou ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, sobre a marginalização dos sindicatos e de outros parceiros sociais na tomada de decisões que dizem respeito ao mercado laboral.

Pretendem também que passem a ser consultados em decisões económicas do país, como aconteceu recentemente com o aumento dos preços dos combustíveis, da água, da eletricidade, dos transportes e a implementação de medidas de austeridade, que reduzem para pior as condições de vida dos trabalhadores e do funcionamento das empresas.

A pressão sobre o Governo visa ainda a adoção de políticas económicas mais inclusivas e transparentes no combate ao desperdício financeiro, a corrupção e melhor distribuição da renda nacional, bem como para o combate a alta de preços, alimentada pelo executivo e seguida pelos agentes económicos, além da execução de um programa de reajustamento de salários.

Nesse sentido, a segunda maior central sindical angolana, informa que está a preparar um caderno reivindicativo a apresentar ao Governo angolano.

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