"Parece-me um caso ímpar, um caso especial de uma comunidade perfeitamente integrada na região onde está inserida", disse Jorge Carlos Fonseca aos jornalistas durante a sua visita ao Bairro Amílcar Cabral, onde vive grande parte da comunidade cabo-verdiana de Sines, no litoral alentejano.

O Presidente daquele país africano afirmou ter-se sentido como "em casa", motivo pelo qual saía "muito bem impressionado" da visita à cidade, onde vivem, segundo a Associação Caboverdiana de Sines e Santiago do Cacém, cerca de mil cabo-verdianos.

Para Ana Ramos, de 57 anos e natural da ilha de São Nicolau, foi uma "emoção" receber o chefe de Estado do seu país, que não conseguiu esconder quando questionada pela agência Lusa.

A viver há 32 anos em Sines, Maria Teresa Rosa, de 65 anos, manifestou-se "feliz" pela visita de Jorge Carlos Fonseca, que achou "muito simpático".

A mulher, reformada por invalidez, nasceu na cidade da Praia, mas partiu com 19 anos para Angola e diz já não se lembrar "muito bem" de Cabo Verde.

A passagem de Jorge Carlos Fonseca por Sines, que fica a pouco mais de 150 quilómetros a sul de Lisboa, insere-se num conjunto de visitas a comunidades cabo-verdianas residentes em Portugal.

Este contacto é "importante" para "unir os cabo-verdianos, manter a coesão social, manter e elevar a autoestima" das populações, realçou o chefe de Estado.

"A cultura cabo-verdiana é muito forte", frisou, por isso, "mesmo pessoas que nunca foram a Cabo Verde, filhos e netos de cabo-verdianos, conhecem e comem a cachupa, o cuscuz, o pastel de milho, falam crioulo, dançam batuque, dançam funaná, cantam mornas".

Francisco Rosário, de 35 anos, é um exemplo dessa ligação, pois, apesar de ter nascido em Portugal, de pais oriundos da ilha de São Nicolau, tem uma grande vontade de manter a tradição cabo-verdiana.

"Não se pode perder a tradição", disse à Lusa, ao mesmo tempo que lamentava que os "mais novos" já não "liguem muito" à comunidade.

Francisco gostou de conhecer o Presidente da República, como todos os outros políticos e governantes que têm passado pelo Bairro Amílcar Cabral, considerando esses momentos para "viver com alegria" e não "fazer queixas", opinião partilhada pelas mulheres que falaram à Lusa.

Apesar disso, a presidente da Associação Cabo-verdiana, Gracinda Luz, confessou aos jornalistas que a comunidade tem sido afetada pela crise económica em Portugal, sobretudo devido ao desemprego, sendo que a maioria dos cabo-verdianos em Sines trabalha no setor das pescas, na construção civil e nas indústrias.

A visita de Jorge Carlos Fonseca assinalou também a "pré-inauguração" da nova sede da associação, o que Gracinda Luz considerou como o "reconhecimento" do trabalho feito em prol da comunidade.

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