Em declarações à Lusa a partir da Cidade do México, onde participa num evento com intelectuais e personalidades de diversas áreas para debater a elaboração de uma Declaração Universal dos Deveres Humanos, Pilar del Río sustentou que "a necessidade de empoderamento da sociedade é, a cada dia, mais clara e contundente" e que, ao escrever o "Ensaio Sobre a Lucidez", Saramago se apercebera já disso.

"Logicamente, quando teve nas mãos a possibilidade, fez um discurso de enorme ressonância: diante da passividade ou do retrocesso em matéria de direitos democráticos de tantos governos, José Saramago propunha que fossem os cidadãos a tomar a iniciativa", sublinhou.

"Os deveres são a simetria necessária para preservar os direitos", defendeu Pilar del Río, que preside à fundação com o nome do escritor, em Lisboa, orgulhosa por "com o nome do português José Saramago se dar, no México, o primeiro passo para se criar a Declaração Universal dos Deveres Humanos que se pretende, em breve levar às Nações Unidas".

No evento, organizado pelo departamento mexicano da World Future Society e pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), sob o tema "O encontro de pensadores para criar a carta de deveres do ser humano", a viúva do escritor leu as palavras de Saramago, que recordavam os cinquenta anos da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

"Não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente, quando não legalmente, estavam obrigados", dissera então Saramago.

"Tomemos então, nós próprios, cidadãos comuns, a palavra: com a mesma veemência com que reivindicamos os direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez assim o mundo possa ser um pouco melhor", leu Pilar del Río, durante a cerimónia de abertura do encontro que termina na quinta-feira.

Com esta iniciativa, os promotores querem assinalar o quinto aniversário da morte do escritor, a 18 de junho de 2010, aos 87 anos, devido a uma leucemia.

ANC (RN) // ARA.

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