Numa entrevista à agência Lusa, o antigo ministro da Justiça (1975/86) e da Informação, Cultura e Desportos (1986/91) escusou-se a adiantar pormenores sobre o conteúdo da "estória" - "vocês é que têm de ter a curiosidade de ler o livro", afirmou -, limitando-se a adiantar que se trata da "prática da religião (católica) em Cabo Verde".

A história de Cabo Verde, país maioritariamente cristão (cerca de 95% dos mais de meio milhão de habitantes), está diretamente ligada à Igreja, que chegou com os primeiros povoadores (1462) à Ribeira Grande de Santiago, onde foi criada a primeira diocese no continente africano, em 1533.

"A história trata da questão da prática da religião, da nossa religião (católica), em Cabo Verde, e de muitas outras coisas, porque mete também algumas outras ligadas à própria vivência e percurso político de Cabo Verde", admitiu, reconhecendo que a obra "tem pedaços autobiográficos", mas também personagens identificáveis da História cabo-verdiana.

Um deles, deslindou, é o recém-nomeado cardeal de Santiago, Arlindo Furtado, de quem foi colega no Seminário de São José, na Cidade da Praia, a quem telefonou a 04 de janeiro, no dia em que se soube da nomeação, para o parabenizar e para o informar que, no livro que então escrevia, tinha-o previsto nessas mesmas funções.

"O resto que conto no livro, é imaginação, é ficção. Uma história que tem um final que seria glorioso para Cabo Verde. Mas é uma história, uma ficção", alertou o atual advogado, com escritório instalado e antigo candidato a presidente da República.

"Papa Por Um Dia" é também um livro onde são feitas "algumas provocações", assume, salientou Hopffer Almada que, sem as identificar, avisou que, "como homem livre" que sempre diz ter sido, podem gerar também "alguma incompreensão e polémica", o que "até é bom", pois gera ainda "alguma discussão".

"Considero-me sempre um homem livre. Livre na palavra e no pensamento. Sempre fui assim e isso já me causou algumas dores de cabeça, mas gosto de dizer o que penso e propugno, sempre com respeito", sublinhou.

"O livro traz coisas que são mesmo provocações para uma discussão e para uma melhoria do nosso «status» dentro da própria religião que abraçamos. Sou católico e, mesmo dentro da minha religião, acho que há coisas em que poderemos encontrar outros caminhos e soluções", argumento Hopffer Almada.

Para escrever o novo livro, publicado pela recentemente criada Acácia Editora e cuja primeira tiragem foi de 500 exemplares, o também antigo deputado (1981/96 e 2001/11) afirmou que tudo passou por uma questão de inspiração, o que acontece quando se escreve com frequência.

"Não determinamos o momento da escrita. Aconteceu agora surgir a inspiração para escrever esse romance, que coincide com um momento histórico em Cabo Verde, que, pela primeira vez tem um cardeal", sublinhou.

"Sempre tive jeito também para escrever prosa, só que tenho-me dedicado sobretudo a estudos e ensaios sobre questões da sociedade e pronunciar-me sobre elas. Os meus livros são quase todos sobre isso. Mesmo a poesia foca essencialmente questões da sociedade", afirmou, assumindo-se como católico praticante.

Para Hopffer Almada, a implantação "muito forte" da Igreja Católica em Cabo Verde tem determinado a maneira de ser do cabo-verdiano, bem como a própria cultura do país e a civilização de "grande parte do mundo".

Natural de Santa Catarina, interior da ilha de Santiago, onde nasceu a 19 de dezembro de 1945 (69 anos), David Hopffer Almada é também membro fundador da Associação de Escritores Cabo-Verdianos (AECV), da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores (SOCA), da Academia Cabo-Verdiana de Letras (ACL).

Várias são as obras que já publicou, entre poesia, ensaios, passando por recessões sobre cultura, direito e política cabo-verdiana.

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