Numa entrevista à agência Lusa, por ocasião das quatro décadas como Estado soberano -- acedeu à independência a 05 de julho de 1975 -, Jorge Carlos Fonseca salientou que, se Cabo Verde tivesse partido com condições mais favoráveis, "talvez" o país fosse, hoje em dia, menos dependente.

"Em 1975, Cabo Verde era um país com um PIB per capita baixíssimo, com uma ainda elevada taxa de analfabetismo, com um acesso à educação ainda restrito e sem infraestruturas de desenvolvimento, nem portuárias, nem rodoviárias, nem com indústria de agricultura, só agricultura de subsistência", argumentou.

"Partimos de muito baixo. Nos primeiros anos de independência, o trabalho era o de criar as condições para a edificação de um Estado viável. É uma expressão que se usa muito, mesmo nos políticos: «não éramos um país viável e hoje somos um país credível e reconhecido». É uma versão verdadeira", acrescentou o presidente cabo-verdiano.

Sem recursos naturais, sublinhou, Cabo Verde não poderia potenciar um desenvolvimento mais robusto e mais rápido, pelo que tem de procurar ser um país "extremamente forte e qualificado" no capital humano.

"Cabo Verde, com uma pequena economia de serviços e uma economia de exportação tem de ser competitivo. Para ser competitivo, tem de ter uma tessitura de capital humano muito forte e muito qualificada", nomeadamente nas áreas tecnológicas, científicas, técnicas, económicas, judiciais e sanitárias, para que possa ter capacidade de gerar meios próprios que financiem o processo de desenvolvimento, sustentou.

Hoje, em dia, sublinhou, Cabo Verde está numa "encruzilhada", uma vez que, até há poucos anos, a opção era um modelo de reciclagem de ajuda externa.

"O que somos hoje devemo-lo, em boa medida, aos recursos externos mas, de há uns anos para cá, a ajuda pública ao desenvolvimento rareia, é excecional, e mesmo os empréstimos concecionais são muito mais difíceis", sustentou, defendendo a criação de condições que transformem as vantagens comparativas - situação geoestratégica, estabilidade e segurança -- em porto seguro.

Para Jorge Carlos Fonseca, muito já foi feito, como no Turismo, mas há "muitos aspetos ainda a melhorar" - ambiente de negócios, um sistema fiscal "mais estimulante" para o investimento externo e dos emigrantes, "menor" burocracia na administração, que terá de ser "mais ágil e menos politizada".

"Esse é o grande desafio. Sermos desenvolvidos significa uma democracia e um Estado de Direito modernos, um Estado que funcione bem, com instituições credíveis, que deem confiança e segurança jurídica ao investidor", disse, salientando que tal pode ser conseguido através de, por exemplo, um bom funcionamento da justiça, de um código do trabalho acessível e melhor acesso ao crédito.

"E também a segurança física. Agora fala-se da insegurança em países do Magrebe. Tem de se criar condições para que Cabo Verde possa ser um destino alternativo para segmentos turísticos e isso é importante para que se torne competitivo", concluiu.

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