"Podemos dizer que é uma maratona dos filmes de Miguel Gomes. A ideia surgiu porque queria mostrar os últimos três filmes [da trilogia 'As Mil e Uma Noites'], no mesmo dia, como uma obra completa, visto que eles foram lançados [em França] em momentos separados, no verão. Quis aproveitar a celebridade incontestável conquistada em Cannes, em 2015, para mostrar os primeiros trabalhos e propor aos espetadores um olhar sobre toda a obra" do realizador, explicou a programadora.

A retrospetiva, que vai realizar-se hoje e durante o fim de semana, até domingo, 24 de janeiro, intitula-se "Um olhar de cineasta sobre o Portugal contemporâneo" e o objetivo é "atravessar a obra e o Portugal de Miguel Gomes" através da exibição das longas e curtas-metragens do realizador, naquela que é "a primeira retrospetiva" que o museu, aberto em 2013, dedica a um realizador.

"Para mim, era importante pensar o Portugal contemporâneo através dos filmes e da maneira como ele trabalhou com os jornalistas. Na trilogia ['As Mil e Uma Noites'] vemos que o realizador se concentra num Portugal contemporâneo que é muito pouco evocado em França, porque todos os discursos de crise económica estão focalizados na Grécia e Portugal é, um pouco, o esquecido da História", continuou Geneviève Houssay.

A retrospetiva começa com uma mesa redonda, hoje à tarde, na presença de Miguel Gomes, do produtor Luís Urbano e dos jornalistas João de Almeida Dias e Laurent Rigoulet, seguindo-se a exibição da curta-metragem "Entretanto" (1999) e da primeira longa-metragem, "A cara que mereces" (2004).

No sábado vão ser exibidas as 'curtas' "Kalkitos" (2002), "Inventário de Natal" (2000), "Dança de um minuto depois de um golo de ouro na liga dos mestres" (2004), "Cântico das Criaturas" (2006), "Redenção" (2013) e "Trinta e Um" (2001), assim como as longas-metragens "Aquele Querido Mês de Agosto" (2008)e "Tabu" (2012).

O último dia da retrospetiva, domingo, é dedicado inteiramente à trilogia "As Mil e Uma Noites", com a exibição dos filmes "O Inquieto", "O Desolado" e "O Encantado".

O programa da retrospetiva apresenta Miguel Gomes como um realizador que "explora uma nova escrita cinematográfica, de uma inventividade incrível", criando filmes que "espelham o presente, sendo ao mesmo tempo oníricos e terrivelmente realistas".

"A questão das retrospetivas é interessante para perceber a evolução do trabalho de um realizador, mesmo que pareça menos impressionante a retrospetiva de um realizador que trabalha há 15 anos do que outro que trabalhe há 40 anos", acrescentou Geneviève Houssay.

A programadora falou, também, da "relação do cineasta com Marselha", a cidade onde foi rodada uma parte de "As Mil e Uma Noites", que "mostrou todas as longas-metragens de Miguel Gomes em ante-estreia" e que "revelou Miguel Gomes em França, através do Festival Internacional do Documentário de Marselha, nos últimos dez anos".

CAYB // MAG

Lusa/fim