"Nós ainda não recebemos nenhum pedido para mediar as negociações, nem por parte do Governo moçambicano nem por parte da oposição", disse à imprensa Maite Nkoana Mashabane, momentos após de um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, em Maputo.

A chefe da diplomacia sul-africana sublinhou que o seu país "reconhece o Governo saído das últimas eleições" em Moçambique, acrescentando que, caso tenha de mediar a crise política no país, o pedido deverá ser feito também pelo partido no poder.

"O que nós sabemos é que em Moçambique há um Governo constitucionalmente eleito", sublinhou Maite Nkoana Mashabane, reiterando que, se um membro da oposição moçambicana convidar o seu país para mediar um conflito, a África do Sul deve ouvir primeiro o Governo "democraticamente eleito".

O líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama, disse, a 22 de janeiro, em entrevista à Lusa, estar na posse de uma resposta positiva por escrito do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica, ao pedido que lhes dirigiu para mediarem a crise política em Moçambique.

Na ocasião, Afonso Dhlakama disse que a resposta positiva da parte de Jacob Zuma veio da embaixada sul-africana em Maputo, justificando o convite ao dirigente do ANC (Congresso Nacional Africano), partido próximo da Frelimo, e antigo exilado em Maputo durante o regime do "apartheid", com a própria segurança da África do Sul.

"A estabilidade em Moçambique pode ajudar também a segurança na África do Sul e foi por aí que decidi indicar o Zuma", explicou o líder da oposição em Moçambique, lembrando que o leste do território sul-africano faz as suas exportações através do Porto de Maputo.

Além disso, o presidente da Renamo referiu-se também ao investimento sul-africano em Moçambique e que o país vizinho importa gás de Inhambane através da petrolífera sul-africana Sasol e também energia de Cahora Bassa.

"Qualquer conflito em Moçambique afeta a economia da África do Sul", reforçou Dhlakama, recusando também a ideia de desarmamento do braço militar do seu partido.

Nos últimos meses, Moçambique tem conhecido um agravamento da violência política, com relatos de confrontos entre o braço militar da Renamo e as forças de defesa e segurança, além de acusações mútuas de raptos e assassínios de militantes dos dois lados.

O presidente da Renamo não é visto em público desde 09 de outubro, quando a polícia cercou a sua residência na Beira, alegadamente numa operação de recolha de armas, no terceiro incidente grave em menos de um mês envolvendo a comitiva do líder da oposição.

No dia 20 de janeiro, o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado por desconhecidos no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, província de Sofala, centro de Moçambique e o seu guarda-costas morreu no local, num caso que continua por esclarecer.

Apesar da disponibilidade para negociar manifestada pelo presidente moçambicano, Filipe Nyusi, o líder da Renamo diz que só dialogará depois de tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

EYAC (HB) // PJA

Lusa/Fim