Alter do Chão, Portalegre, 25 abr (Lusa) - A estrela mais cintilante do universo equídeo nacional, o Puro-Sangue Lusitano "Rubi", foi homenageada sexta-feira no leilão anual de Alter do Chão, Portalegre, e provou o valor do seu nome ao ver arrematados alguns descendentes.

Em dia de céu cinzento e chuviscoso, juntaram-se na mais antiga coudelaria do país cerca de 500 pessoas para ver desfilar os 16 exemplares que foram à praça, entre os 2.500 e os 25.000 euros, mas poucas foram as que licitaram e a maioria dos cavalos abandonou o picadeiro sem encontrar novo dono. Só seis foram vendidos, mas alguns foram disputados.

Foi o caso de "Guincho", neto de "Rubi", que teve ofertas de um comprador espanhol, que levou para casa quatro éguas e um macho, e de José Augusto Rodrigues, que saiu vencedor neste lance no lance de 3.600 euros, depois de ter perdido uma égua para o concorrente espanhol.

"Estou muito contente, muito satisfeito com a aquisição deste belíssimo animal, que tem linhagem, é neto do "Rubi" e tem tudo para me tornar feliz", declarou à agência Lusa.

José Augusto Rodrigues não esconde a perspetiva de investimento: "comprei uma coisa por gosto, por lazer, mas estou também a fazer um investimento porque o que esse animal certamente me vai trazer, em termos de futuro, se calhar compensa este investimento que estou a fazer".

O facto de o animal de quatro anos ser neto do multipremiado "Rubi", "que todo o mundo conhece", pode ajudar a vendê-lo no futuro a um preço superior ao que foi comprado, acredita José Augusto Rodrigues.

Quanto à preferência pelo Puro-Sangue Lusitano (PSL), resume: "é um cavalo dócil, um cavalo português que, em termos de trabalhos, é um dos melhores e a aposta tem de ser mesmo essa, apostar nos melhores e naquilo que é nosso".

O Lusitano não foi, no entanto, a única raça nacional a despertar o interesse dos amantes de cavalos.

José Henrique Nunes, dono de uma escola de equitação em Mafra, teve "a felicidade de arrematar há três anos um cavalo Lusitano de nome 'Alter', mas estava agora de olho no único de raça "Sorraia" do leilão.

"Tenho uma escola de equitação em Mafra e esse 'Sorraia' era um cavalo muito importante para a parte de hipoterapia. É um cavalo de dimensões baixas e para as crianças com dificuldades, que precisam de um cavalo dócil, manso, de baixo estrutura", seria o ideal, explicou.

No entanto, saiu de mãos a abanar, insatisfeito com o valor base da licitação, que considerou demasiado elevado (2.500 euros).

"Penso que era preferível começar sempre com um preço mais baixo, um leilão é feito assim. As pessoas começavam a licitar e acabavam por ir para esses valores que dão logo de início. Caso contrário, as pessoas 'cortam-se' um bocado a começar logo a licitar com valores tão elevados", opinou o empresário.

Retirado da competição desde 2014, o multipremiado "Rubi", que foi 16.º classificado nos Jogos Olímpicos 2012 em Inglaterra e conquistou um vasto palmarés nacional e internacional, foi condecorado pela ministra da Agricultura e Mar, Assunção Cristas, e desfilou sob uma forte ovação dos seus admiradores - embora não fizesse parte dos lotes a leiloar.

"É um senhor e um cavalheiro, um cavalo muito especial" que não tem preço e nunca será vendido, garantiu à Lusa a orgulhosa proprietária, Christine Jacoberger, que comprou o Rubi em 2009 porque acreditou que tinha todo o potencial e talento para competir com os melhores do mundo.

Christine Jacoberge descreve o "menino da família", não só como "um grande atleta", mas também "um cavalo carinhoso" com uma "personalidade fantástica" que é "um grande embaixador da coudelaria de Alter".

Por outro lado, a ministra Assunção Cristas aplaudiu "as éguas, que estiveram em alta", ao contrário do que se verifica normalmente neste género de leilões, e lembrou que "ainda podem ser recebidas propostas" nos dias seguintes, embora o preço fique mais caro.

"O interesse pelo cavalo Lusitano está a crescer. Nas provas internacionais, o Lusitano vai mostrando toda a sua capacidade e o seu potencial e, entre nós, o turismo equestre também está a crescer. Ainda há poucos dias falava com aluem que me dizia que precisava de ter mais cavalos e mais equitadores porque a procura era enorme", sublinhou.

O responsável da produção equina da Coudelaria de Alter, Francisco Beja, confirmou este entusiasmo pelo cavalo Lusitano, que tem "cada vez mais performances desportivas nas modalidades olímpicas, por exemplo, a Dressage (ensino) ou a Atrelagem".

"É um cavalo em franca expansão, muito fácil de montar, com características únicas de docilidade e afabilidade, com grande capacidade de sofrimento em relação à pessoa que o monta, e que o tem, e, portanto, é um produto único e de excelência da criação nacional", elogiou.

E também tem procura internacional: "é um mercado que a partir de 2008 decresceu e que começa agora a dar os primeiros passos, com a procura a aumentar em relação aos cavalos de grande performance desportiva e a olharem para o nosso Lusitano como um cavalo com aptidões de ensino, com aptidões desportivas sérias", vincou Francisco Beja.

A par do centro e norte da Europa, onde pontificam França, Bélgica, Alemanha e Inglaterra como os principais mercados, também a Rússia, China ou América Latina estão a dar grande impulso à criação e ao negócio, destacando-se o Brasil como um "grande parceiro" onde o Lusitano recebe "um carinho especial" e "é criado muito bem".

A Coudelaria de Alter Real, situada no norte alentejano e atualmente gerida pela Companhia das Lezírias, foi fundada em 1748 pelo rei D. João V. É responsável pela preservação do património genético animal da raça lusitana, quer na linha genética da Coudelaria Nacional, quer na linha Alter Real, e desenvolve igualmente atividades turísticas.

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