"Preocupa-nos a postura e comportamento de alguns camaradas que publicamente engendram ações que concorrem para perturbar o normal funcionamento dos órgãos e das instituições e para gerar divisões e confusão no nosso seio", declarou o ex-Presidente moçambicano, que se mantém líder da Frelimo, perante 195 membros do Comité Central e dezenas de convidados.

A continuidade de Guebuza na liderança da Frelimo tem sido questionada por analistas e também por membros do partido, que alertam para o risco da criação de dois centros de poder, fragilizando o Presidente da República, Filipe Nyusi, também presente na IV Sessão Ordinária do Comité Central, hoje iniciada na cidade da Matola, arredores de Maputo.

Segundo Guebuza, a Frelimo "saiu mais coesa e reforçada do seu processo interno de março de 2014 [data do Comité Central que indicou Nyusi como candidato presidencial] e das eleições de 15 de outubro".

"Recordemo-nos, por outro lado, caros camaradas, que, quando algumas pessoas, sobretudo as mais barulhentas nos elogiam é porque querem que cometamos erros", afirmou o presidente do partido na abertura da reunião, que não prevê, na sua agenda prévia, a discussão de uma nova liderança.

A ordem dos trabalhos pode, no entanto, ser alterada durante o decurso o encontro, que prossegue à porta fechada até domingo na Escola Central da Frelimo.

"A nossa referência são os órgãos, nós fazemos o que os nossos órgãos decidem", sublinhou Armando Guebuza, avisando que os adversários do partido "não querem uma Frelimo forte, omnipresente e popular, não querem ver o seu Governo forte", nem um Presidente da República "forte, firme, dando o seu melhor na direção do Estado, porque sabem que isso o beneficiaria não só a ele como à gloriosa Frelimo".

Os adversários da Frelimo "batalham, dia e noite para que o seu sonho seja materializado", prosseguiu, instando os membros do partido a lutar também, "sempre unidos, coesos e firmes, para que esse seu sonho se transforme em pesadelo".

Numa passagem não contida no seu discurso escrito, o antigo chefe de Estado moçambicano evocou o assassínio à bomba do fundador da Frelimo, Eduardo Mondlane, em 1969, e a morte em 1986 do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, num acidente de aviação que a organização atribui a um atentado do ex-governo do "apartheid" da África do Sul, como exemplos de tentativa de destruir o partido.

"Talvez seja útil recordar que o objetivo deles é abater a Frelimo, é acabar com a Frelimo, temos experiências muito infelizes que nós conhecemos, algumas das quais vale a pena recordar: quando assassinaram Eduardo Mondlane, era para acabar com a Frelimo, quando assassinaram Samora Machel, era para acabar com a Frelimo, e naturalmente quando alimentam crises internas é para a Frelimo não se reerguer, para continuar com o projeto comum de 1962", ano da fundação do partido no poder, afirmou.

Referindo-se a este período político como uma "fase histórica", em que "a vitória da Frelimo está aqui" e do candidato do partido, Filipe Nyusi "está aqui", Guebuza destacou que a força maioritária deve "mudar como partido para que o eleitorado não tenha de mudar" as suas escolhas.

"A nossa visionária Frelimo não dá ao maravilhoso povo moçambicano razões para ele mudar, porque a nossa já cinquentenária Frelimo, ela própria, chama a si a tarefa de operar mudanças", defendeu o líder do partido, observando que "não é a alternância em si que dá vitalidade à democracia, é, isso sim, a sua possibilidade".

Logo no início o seu discurso, noutra passagem improvisada, Armando Guebuza avisou que "ainda há eleições", não imediatamente mas que exigem a constante preparação do partido para um novo combate eleitoral e "vencendo".

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