"As principais conclusões apontam para que existe excesso de peso e obesidade mais acentuadamente nas mulheres do que nos homens. Em termos alimentares encontramos excesso de sal e de gorduras e tudo isto está a influenciar o aparecimento de doenças cardiovasculares" afirmou Luzia Gonçalves, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, entidade responsável pela elaboração do estudo.

"Cabo Verde está numa fase de transição em saúde e as doenças crónicas estão a ganhar cada vez mais terreno quando comparadas com as doenças transmissíveis", acrescentou a coordenadora do estudo, que envolveu cerca de duas mil pessoas em três bairros da capital cabo-verdiana.

A recolha de dados decorreu em 2014 na zona histórica do Plateau, numa parte do mais recente bairro do Palmarejo e nas zonas periféricas de Vila Nova e Safende.

"O estudo mostra que a zona informal, que é a zona de Vila Nova tem indicadores de saúde mais pobres do que as restantes zonas", adiantou Luzia Gonçalves, sublinhando que as desigualdades sociais se traduzem em desigualdades na saúde.

Nesse sentido, a responsável pela investigação, que foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal, defendeu a necessidade de apostar na prevenção em articulação com os vários setores da cidade.

Como exemplo, apontou a questão da segurança dos espaços urbanos.

"Se a segurança na cidade não é propícia para que as pessoas se sintam bem a andar e a fazer exercício físico nos locais públicos evidentemente que terá muita implicação nos aspetos da saúde", disse.

Sublinhou também o papel das próprias comunidades, destacando que durante a elaboração do estudo se verificou uma boa adesão das populações que evidenciaram vontade de mudar os hábitos alimentares.

Questionada sobre se os dados deste estudo poderão ser extrapolados para a realidade de outras ilhas e cidades cabo-verdianas, Luzia Gonçalves admitiu que algumas questões, como o excesso de sal, serão transversais a outras localidades, mas aconselhou prudência numa leitura mais alargada dos resultados.

Considerou, por isso, importante o alargamento do estudo a outras cidades do arquipélago.

Para a presidente do Instituto de Saúde Pública de Cabo Verde, Joana Alves, os resultados do estudo vem confirmar e sistematizar a ideia que as autoridades de saúde já tinham relativamente à influência do planeamento urbano na saúde das populações.

"O planeamento urbano tem implicações na saúde. O crescimento desordenado tem implicações na adução de água e no saneamento. O fluxo das pessoas do campo para a cidade faz com que os determinantes de saúde se aprofundem, a disparidade aumente e tenha implicação na saúde", disse.

Adiantou que o estudo agora divulgado irá "permitir incentivar medidas de promoção da saúde e de comportamento para a mudança de atitude" das populações.

O estudo, apresentado no âmbito de um seminário sobre "Espaço Urbano e Saúde", que decorre hoje e sexta-feira na cidade da Praia, visou relacionar as questões do planeamento urbano com alguns indicadores de saúde, nomeadamente a obesidade e doenças cardiovasculares.

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