SUV, um novo luxo?

  • Helena Amaral Neto
  • 7 Outubro 2017

A opção por um carro family-friendly que se adapta ao jantar de gala e também pode subir a montanha até ao chalet de ski é uma tendência crescente dos novos clientes de luxo. O SUV é a resposta.

Quando pensamos em carros de luxo, a britânica Rolls-Royce surge como referência. Pelo menos tem sido o ícone do luxo no mercado automóvel ao longo do século 20, associada às elites tradicionais. Percebemos que o mundo está a mudar quando a mítica Rolls-Royce anuncia a sua entrada no mercado dos SUV, com o Cullinan, já em 2018.

Esta mudança de paradigma levanta uma questão crítica: Como se define luxo? É uma pergunta recorrente, e com as mais variadas respostas. Desde a clássica citação de Coco Chanel: “Some people think luxury is the opposite of poverty. It is not. It is the opposite of vulgarity”. Até versões mais millennial onde “offline is the new luxury”.

O conceito de luxo varia ao longo das épocas, das culturas e das geografias. Mas há dois atributos que são constantes ao longo do tempo: a qualidade inquestionável e a exclusividade. Até à chegada da produção em série, onde Henry Ford teve um papel crítico na transformação do setor automóvel, a maioria dos produtos de luxo eram raros, de acesso difícil, e produzidos em quantidades muito limitadas. E, por isso, eram considerados luxo, extravagâncias de elevado valor.

Hoje, ter uma garagem com um carro diferente para cada dia da semana, tipo de atividade ou cor do arco-íris, pode ser considerado uma extravagância. Mas a opção por um carro family-friendly que se adapta ao jantar de gala e também pode subir a montanha até ao chalet de ski é uma tendência crescente dos novos clientes de luxo. E os fabricantes automóveis estão a acompanhar este novo conceito de luxo, onde o SUV é a resposta a estas tendências de mercado, que já representa 60% das vendas de algumas marcas de luxo automóvel.

Porquê a dúvida das marcas de luxo automóveis em desenvolver este segmento crescente e aparentemente tão rentável? Sergio Marchionne, CEO da Ferrari, é conhecido por dizer que preferia ser morto a deixar o Cavallino Rampante ter uma versão utilitária. Porque acredita em preservar a exclusividade da marca acima de tudo. Mas nem todos pensam da mesma forma.

A Porsche foi pioneira nesta estratégia, com o lançamento do Cayenne há mais de uma década. Foi criticada pelos puristas da marca, tradicionalmente associada aos carros desportivos e focada no mercado masculino. Perdeu alguns clientes, mas ganhou muitos mais, sobretudo na China, o mercado com maior crescimento para os SUV. Hoje o fabricante alemão vende duas vezes mais SUVs do que desportivos nos Estados Unidos.

A Bentley teve a mesma reação dos fãs tradicionais da marca quando lançou o Bentayga o ano passado. Mas o SUV mais rápido do mercado é também o best seller da marca, e permitiu a captação de novos clientes, crítico para o crescimento da empresa.

Também a Jaguar e a Maserati lançaram SUVs, com grande sucesso. A Aston Martin vai seguir os passos, e a Lamborghini está a preparar a entrada do Urus em Dezembro. A expectativa é grande à volta deste SUV, sobretudo quando o COO da marca descreve o Urus como um “super sports car in the body of the SUV”. A Lamborghini espera duplicar as vendas em 2018, com a entrada neste mercado.

Numa altura em que não há barreiras ao acesso aos produtos, em que até podemos comprar um Tesla Model X online, a exclusividade do luxo torna-se um desafio cada vez maior. A pressão do negócio, e as exigências (eventualmente extravagantes) dos acionistas tornam a gestão de uma marca de luxo num exercício muito difícil. Como alavancar o valor da marca sem por em risco a sua exclusividade? Até a Ferrari já se rendeu à inevitável vaga dos SUV, mas avisou que será “Ferrari style”…

  • Helena Amaral Neto

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