Que tipo de investidor é? 5 propostas até ao final do ano

Investir pressupõe saber-se que nível de risco se está disposto a assumir. Fique a conhecer que porta abrir no mundo dos investimentos até final do ano, tendo em conta o grau de risco que quer assumir

No universo dos investimentos são muitas as soluções financeiras disponíveis para rentabilizar o dinheiro. Mas nem sempre a escolha é fácil, nem o retorno uma garantia. Antes de investir é necessário saber-se até que ponto se está disponível a ir não só em termos das quantias a aplicar, do período temporal de aplicação, mas também do grau de risco que se está disposto a assumir. É com base na ponderação deste tipo de fatores que se escolhe que portas abrir no universo dos investimentos.

Numa altura em que praticamente todos os portugueses já regressaram ao seu dia-a-dia após as férias do verão, o ECO apresenta-lhe cinco portas no universo dos investimentos que pode abrir consoante a sua postura perante o risco: muito conservador, conservador, equilibrado, agressivo e muito agressivo. Não havendo uma resposta certa para cada perfil de risco ou investidor, há premissas gerais que caracterizam cada um desses segmentos.

Enquanto os investidores muito conservadores tendem a apostar em ativos onde o risco é nulo ou muito próximo disso, preferindo colocar as suas poupanças em depósitos a prazo, os especialistas consideram já fazer sentido dar uma “ligeira piscadela de olho” ao investimento em obrigações.

Nos graus intermédios de exposição, a ordem é para contrabalançar a aposta em ações e obrigações. Quanto maior disposição para assumir riscos, mais elevada deverá ser a exposição ao mercado acionista, enquanto no caso das obrigações a indicação é de passar da dívida investment-grade para passar a incorporar dívida high-yield. No lado oposto, os investidores com posturas muito agressivas perante o risco, o limite é o “céu” no que respeita aos investimentos. Porque não colocar todo o dinheiro em ações ou fundos de ações que apostam em novas tendências, como a robótica ou a segurança digital das pessoas. Descubra qual das portas quer abrir.

Muito conservador – Ações? Não obrigada

Existem diversas aplicações vocacionadas para quem tem nenhuma apetência para o risco. O problema é que a maioria também distribui retornos muito reduzidos. É o caso dos depósitos a prazo. Os últimos dados disponibilizados pelo Banco de Portugal indicam que, em julho, a taxa de juro bruta oferecida nas novas aplicações em depósitos a prazo foi de 0,27%, em média. Ou seja, a remuneração mais baixa de sempre para este tipo de aplicações.

Mas se preferir não prescindir de ter em carteira este tipo de produto, deve aproveitar os “depósitos a prazo promocionais”, tal como recomenda José Costa Leite, gestor de clientes do Banco Carregosa. Esses depósitos tendem a oferecer remunerações mais atrativas face aos restantes, já que são construídos com o objetivo de captar novos clientes ou recursos para as instituições financeiras. Normalmente, têm um prazo inferior a um ano — três meses ou seis meses, por exemplo — e não são renováveis por períodos adicionais.

Juros dos depósitos cada vez mais baixos

Fonte: Banco de Portugal | Valores em %

Em alguns dos depósitos com essas características disponíveis, a taxa de juro oferecida assume valores próximos dos 2%, considerando aplicações de cinco mil euros. É o que acontece, por exemplo com os Depósitos a Prazo Boas-Vindas, do Atlântico Europa, ou o GoBulling Bem-vindo, do Banco Carregosa. Destinam-se apenas a novos clientes, têm um prazo de três meses e pagam uma taxa de juro bruta de 2,5%. Com o mesmo prazo, destacam-se ainda o Depósito Novos Clientes do Banco Best que oferece uma taxa bruta de 2,25%, enquanto o Super Depósito do BiG remunera a um juro de 2%.

Entre as aplicações mais conservadoras, os investidores podem ainda apostar nos seguros de capitalização e PPR, mas não espere retornos muitos elevados. “Dado que este tipo de investimentos tem atualmente uma remuneração bastante baixa, de acordo com os atuais níveis de taxas de juro, o investidor pode complementar a sua carteira adicionando um fundo de investimento de baixo risco mas que no médio e longo prazo pode apresentar um retorno superior às aplicações ‘sem risco'”, defende assim Rui Castro Pacheco, head of asset management do Banco Best.

"De acordo com os atuais níveis de taxas de juro, o investidor pode complementar a sua carteira adicionando um fundo de investimento de baixo risco mas que no médio e longo prazo pode apresentar um retorno superior às aplicações ‘sem risco’.”

Rui Castro Pacheco

Banco Best

O responsável do banco online sugere combinar três fundos de investimento “misturados” numa carteira. “Todos eles são fundos bastante flexíveis que investem apenas em obrigações, mas podem diversificar os seus investimentos, em todos os tipos de obrigações e regiões, utilizando técnicas de gestão para preservar ao máximo o capital investido”, diz Rui Castro Pacheco.

Neste âmbito, o especialista do Banco Best indica a combinação dos seguintes três fundos de investimento. Um deles é o TwentyFour Absolute Return Credit Fund (nível de risco 2, numa escala entre um mínimo de 1 e um máximo de 7) da gestora Vontobel, que no último ano apresentou uma rentabilidade de 2,37%. Indica também o Jupiter Dynamic Bond e o fundo PIMCO Income Fund, ambos com nível de risco 3. No último ano, apresentaram retornos de 1,73% e 5,04%, respetivamente.

Para quem não pretenda aventurar-se na aposta em fundos de investimento, sempre pode colocar as suas poupanças nos produtos do Estado: nomeadamente os Certificados do Tesouro Poupança Mais. Este é um dos produtos sugeridos por José Costa Leite, do Banco Carregosa, que salienta a respetiva “remuneração crescente ao longo de cinco anos”, lembrando no entanto o facto de que “impedem a mobilização antecipada do dinheiro no primeiro ano”. Ou seja, este produto apenas deverá ser incluído em carteira, caso o investidor esteja disponível a prescindir do respetivo valor durante esse prazo.

Em termos de retornos, batem a grande maioria dos depósitos a prazo. No primeiro ano de aplicação, oferece uma remuneração bruta de 1,25%. Esta remuneração sobe ainda mais para horizontes de investimento mais alargados, para atingir uma taxa média de 2,25% nos cinco anos, sendo que nos últimos dois pode ser acrescida de um prémio adicional em função da evolução do PIB real do país.

Conservador — Olhar para as obrigações e “piscar o olho” às ações

Se é conservador, mas está preparado para assumir algum risco, mesmo que ligeiro, os especialistas são consensuais em recomendar privilegiar o investimento em obrigações. Neste âmbito, José Costa Leite sugere a aposta em fundos de obrigações corporativas com rating elevado (investment grade) e de curto prazo. “Esta classe de obrigações apresenta menor volatilidade mas como tem já algum risco, o prémio (remuneração) tende a ser maior que as aplicações de capital garantido”, explica o especialista do Banco Carregosa.

Também no espetro do investimento em obrigações, a recomendação do Banco BiG vai no sentido de colocar o dinheiro em Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), em específico na linha de OTRV com vencimento em agosto de 2022. “Não se tratando de um investimento com capital garantido, as OTRV são emitidas pelo Estado e permitem beneficiar de taxas mais altas do que a maioria dos depósitos a prazo oferecidos atualmente”, refere Steven Santos. Este produto que é disponibilizado pelo Estado português foi lançado no final de julho passado, mas é negociado no mercado.

Mas os especialistas consideram que os investidores conservadores também já podem dar uma ligeira “piscadela de olho” às ações. “Dado que estamos a falar em investimentos com prazos relativamente alargados, pensamos que já fará algum sentido investir em aplicações ainda mais diversificadas que possam inclusivamente ter alguma componente de ações”, defende Rui Castro Pacheco, direcionando os investidores para fundos de investimento mistos. Ou seja, que conciliam a aposta em obrigações com ações.

"Um perfil conservador deverá focar-se mais na classe de obrigações e expor-se de forma reduzida à classe de ações.”

José Costa Leite

Banco Carregosa

No mesmo sentido vai a recomendação de José Costa Leite. “Um perfil conservador deverá focar-se mais na classe de obrigações e expor-se de forma reduzida à classe de ações”, diz o especialista do Banco Carregosa. Neste âmbito, aconselha a privilegiar fundos de investimento mistos conservadores, com aproximadamente 70% obrigações e 30% ações.

Em termos de produtos concretos, Rui Castro Pacheco sugere três fundos de investimento. Em concreto, o BlackRock Strategic Funds – Managed Index Portfolios Defensive (risco 3), o M&G Optimal Income (risco 3) e o Pimco Dynamic Multi-Asset (risco 4). No que respeita ao fundo da BlackRock, mais de 80% dos ativos estão aplicados obrigações, cabendo às ações uma parcela de cerca de 16% da carteira. Nos últimos 12 meses, este fundo teve uma rentabilidade negativa de 0,62%.

Por sua vez, no produto do M&G o investimento em ações pode ir até um limite de 20% do portfólio, sendo que atualmente a aposta nessa classe de ativos é de menos de 4% do portfólio, cabendo às obrigações 82,88% da carteira. No último ano, este fundo rendeu 5,83%. Já o fundo da PIMCO distribuiu um retorno de 5,74% nos últimos 12 meses, sendo que 86,31% dos ativos estão em obrigações e 19,03% em ações.

Equilibrado — ações e obrigações de igual para igual

As recomendações dos três especialistas coincidem no que respeita ao tipo de produtos financeiros em que este tipo de investidores devem apostar: fundos de investimento mistos. Ou seja, fundos em que as obrigações e as ações surgem numa proporção semelhante (50%-50%), mas onde também há espaço para a tesouraria. “Por ser um investimento amplamente diversificado, poderá esperar-se volatilidade inferior à que ocorreria se se comprasse um fundo exclusivamente de ações ou de obrigações”, explica Steven santos.

"Por ser um investimento amplamente diversificado [fundos mistos], poderá esperar-se volatilidade inferior à que ocorreria se se comprasse um fundo exclusivamente de ações ou de obrigações.”

Steven Santos

Banco BiG

Neste âmbito, José Costa leite sugere diversificar as aplicações entre fundos de ações global e fundos de obrigações investment grade. A aposta na categoria de ações globais é menos arriscada do que uma aposta em ações de uma determinada região ou setor específico, enquanto a escolha de obrigações investment grade — ou seja de qualidade elevada — também oferece mais segurança do que a dívida de inferior qualidade.

Para este tipo de perfil de investidor, Rui Castro Pacheco sugere três fundos de investimento: o BlackRock Strategic Fund – Management Index Portfolios Moderate, o Aberdeen Global – Multi Asset Growth e o M&G Dynamic Allocation. Relativamente ao primeiro fundo, o respetivo investimento está distribuído da seguinte forma: 52,05% em ações, 42,57% em obrigações e 6,11% em liquidez. Nos últimos 12 meses o retorno deste fundo que tem um grau de risco 4 foi de 4,35%.

Já o produto da gestora Aberdeen (risco 4) está distribuído da seguinte forma: 33,32% em ações, 24,789% em obrigações, 9,9% em liquidez, enquanto os restantes 31,89% estão em outras classes de ativos. Em termos de retorno, este ascendeu a 7,54% no último ano. Por sua vez, no caso do fundo da M&G, a liquidez concentra a maior proporção dos ativos — 52,41% –, cabendo 36,92% ao investimento em ações e 4,01% em títulos de dívida.

Agressivo — Começar a ser dominado pelas ações

Mais risco? Mais ações. Tirar partido do mercado acionista é a principal prioridade para investidores agressivos. Esta aposta tanto pode ser feita diretamente em ações como através de fundos de investimento. José Castro Leite sugere investir em fundos mistos agressivos, com uma exposição de 70% a ações e 30% em obrigações. Outra alternativa será diversificar o investimento entre fundos de ações globais e fundos de obrigações que apostam em dívida com classificação de investment grade, high yield, ou de mercados emergentes.

Já Steven Santos, relativamente ao mercado acionista recomenda privilegiar o investimento em títulos dos setores do consumo ou dos cuidados de saúde. “Preferimos o setor do consumo, devido aos sinais de crescimento económico e de maior poder de compra na Europa, e de cuidados de saúde, devido ao seu potencial de inovação nos tratamentos terapêuticos e à possibilidade de ocorrer consolidação e aumento da dimensão dos operadores através de fusões e aquisições“, explica o gestor do BiG.

Numa aposta em que as ações são o investimento privilegiado, O Banco Best dá o exemplo de três fundos de investimento que se podem indicar a investidores com alguma apetência para assumir risco. Especificamente, o BlackRock Strategic Funds – Managed Index Portfolios Growth, o AXA World Funds – Global Optimal Income e o UBS Strategy Fund – Growth. Os dois primeiros têm um grau de risco 5, tendo rendido no último ano 7,9% e 15,63%, respetivamente. No último caso, o risco é mais baixo – 4 -, sendo que o respetivo retorno foi de 12,27% no mesmo período.

Muito agressivo — Escancarar a porta às ações

Os investidores com maior predisposição para assumir riscos estão dispostos a abrir todas as portas no que sentido de maximizar os retornos dos seus investimentos. “Para investidores com perfil de risco muito agressivo, pensamos que faz algum sentido incluir fundos de investimento que estejam 100% investidos nos mercados acionistas, já que as ações são o ativo que, historicamente e numa ótica de longo prazo, tem maiores retornos”, Rui Castro Pacheco.

Uma opinião partilhada por José Costa Leite que, para além de sugerir investir em fundos de ações de economias desenvolvidas e emergentes, coloca em cima da mesa a possibilidade de uma aposta em fundos de obrigações high yield e de mercados emergentes. Ou seja, de dívida a que está associado um elevado nível de risco, mas em que o potencial de ganhos também é mais alto.

Para uma aposta que privilegia o investimento em ações, Rui Castro Pacheco sugere diversos fundos, alguns deles mais arrojados. Dois são fundos de ações globais: o Capital Group New Perspective e o BNY Mellon Global Equity Income. Ambos apresentam um grau de risco, sendo que o primeiro apresenta um retorno de 10,73% no último ano, enquanto no segundo caso a rentabilidade no mesmo período é de 2,25%.

Propõe ainda tirar partido de algumas tendências, como os fundos Pictet Robotic (risco 5) e AXA Framlington Robotech (risco 5), que apostam em ações de empresas dedicadas ao tema da robótica. O primeiro apresenta um retorno de 21,59% nos últimos 12 meses. Outra sugestão recai sobre o fundo Pictet Security, cujo foco de investimento são empresas que se dedicam à segurança física e digital de pessoas, informação e infraestruturas. É-lhe atribuído um risco de 5, tendo o seu retorno ascendido a 5,39% no último ano.

A sugestão do BiG vai no sentido de uma aposta alavancada através do investimento em CFD. “Para perfis mais ativos ou agressivos, os CFD permitem investir sem dispor da totalidade do capital, isto é, são instrumentos alavancados. Para a negociação de curto prazo, os CFD são um dos instrumentos financeiros mais eficientes, permitindo negociar quer as subidas, quer as descidas de preço do mercado e ter acesso a diversos ativos subjacentes, como as ações, os índices acionistas, as matérias-primas e os pares cambiais”, explica.

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