Novo Banco: Dois meses para negociar em dois tabuleiros

Lançada a oferta de compra de obrigações, o Banco de Portugal tem de negociar acordo com grupo de investidores que foi afetado pela retransferência de obrigações em 2015 para o 'BES mau'.

O Banco de Portugal corre contra o tempo para chegar a um acordo com o grupo de grandes investidores internacionais no caso da transferência de dívida para o “BES mau” no valor de 2,2 mil milhões de euros. Carlos Costa tem os próximos dois meses para conseguir um entendimento com estes fundos. Isto porque deles também depende o sucesso da oferta de compra de obrigações do Novo Banco que está em curso. Ou seja, o futuro do banco joga-se até a 2 de outubro.

Há dois caminhos paralelos (e com pontos em comum) que Banco de Portugal, Novo Banco e credores estão a percorrer neste momento no sentido de viabilizar a venda do banco de transição ao fundo norte-americano Lone Star. Em concreto:

  1. a oferta de recompra de obrigações do Novo Banco lançada esta terça-feira com o prazo terminar a 2 de outubro e que envolve um “saldo vivo” de cerca de três mil milhões;
  2. as negociações entre Portugal e o grupo de grandes investidores internacionais para resolver um diferendo criado no final de 2015, quando a Autoridade de Resolução nacional, o Banco de Portugal, decidiu transferir obrigações no valor de 2,2 milhões de euros para o “BES mau”, num dossiê separado.

O que acontece é que uma parte dos investidores que estão em disputa judicial com Portugal também está a ser chamada a participar na oferta do Novo Banco. Porém, sem obter primeiro um acordo com o Banco de Portugal, estes investidores dificilmente vão acompanhar as condições da operação lançada esta terça-feira e não vão vender as obrigações que, em alguns casos, implicam um desconto de 90% face ao valor nominal.

Um dos credores não disfarçou a surpresa e insatisfação com o facto de o Novo Banco ter lançado esta oferta sem que o Banco de Portugal e o grupo de grandes investidores tenham alcançado um entendimento.

Isto [disputa com grandes fundos] devia estar resolvido de acordo com qualquer reestruturação das obrigações seniores do Novo Banco“, referiu ao ECO Jochen Felsenheimer, da Xaia Investment, um fundo alemão com uma posição de cerca de 100 milhões de euros em obrigações do Novo Banco.

O Ministério das Finanças e Banco de Portugal foram contactados, mas sem resposta até ao momento.

Esta semana, um porta-voz deste grupo adiantou que as conversas com as autoridades portuguesas que aconteceram na última semana foram no bom sentido. “Discussões construtivas (…) para encontrar algo que proteja os nossos investidores e o banco”, sublinhou esta fonte à agência Bloomberg.

Do lado do Governo, também há disponibilidade para chegar a um entendimento. Além do risco reputacional, uma auditoria da Deloitte mostrou que, em caso de liquidação do BES, os credores teriam direito a 31,7% do valor investido — o chamado “No Creditor Worse Off”. Isto significaria que os fundos teriam direito a receber cerca de 600 milhões de euros. Assim, nesse cenário, o Governo e o Banco de Portugal admitem um acordo por um valor abaixo dos mil milhões de euros.

Fonte do Governo disse ao ECO na semana passada que as negociações ainda se encontram em desenvolvimento, tendo observado que a resolução do Banco Popular, em Espanha, veio relembrar a posição vulnerável dos credores do Novo Banco.

“Eles não podem esticar a corda nas negociações da oferta do Novo Banco por causa da retransferência de obrigações de 2015, porque sabem que se não houver nada, a Autoridade de Resolução europeia toma uma decisão drástica e os fundos internacionais perdem tudo, como aconteceu em Espanha”, sublinhou a fonte.

Seja como for, o futuro do banco joga-se em dois caminhos que se têm de encontrar até a 2 de outubro.

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