Num discurso perante representantes de 105 países asiáticos e africanos, 15 países observadores e 17 organizações internacionais, o chefe de Estado de Timor-Leste manifestava assim o seu apoio ao documento em cima da mesa na cimeira que marca o 60.º aniversário da Conferência Ásia-África e do 10.º aniversário da Nova Parceria Estratégia Ásia-África.

Taur Matan Ruak destacou "a prioridade atribuída pela declaração a um crescimento de qualidade para assegurar o bem-estar dos povos" e que não deve assentar apenas no Produto Interno Bruto (PIB), falando num documento que ainda não foi assinado nem disponibilizado à imprensa.

O crescimento, continuou, tem de "valorizar a inclusão económica e social e a sustentabilidade ambiental", bem como a "segurança alimentar" e "um desenvolvimento sustentável da economia dos recursos do mar".

O líder timorense exemplificou que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) "acordou transformar a segurança alimentar e a nutrição num processo de cooperação multilateral e mantê-lo na agenda durante dez anos, pelo menos".

"A liberdade de navegação e de segurança é um pilar do comércio e da estabilidade internacionais", defendeu, sublinhando igualmente a importância da sustentabilidade dos recursos marítimos para o bem-estar geral.

O Presidente de Timor-Leste dedicou grande parte do seu discurso a falar sobre a história de paz e de cooperação do seu país com a Indonésia, após décadas de ocupação que terminaram com a declaração de Independência timorense em 2002.

"O processo de paz e de reconciliação entre nós mostra a capacidade das nossas democracias de dialogarem e procurarem encontrar soluções mutuamente vantajosas no respeito dos direitos humanos e na dignidade dos povos", sublinhou.

O chefe de Estado de Timor-Leste reforçou que a "cooperação bilateral e multilateral" entre os dois países do Sudeste Asiático "é hoje uma mais-valia importante para o estabelecimento da segurança na região e serve o desenvolvimento social e económico" dos dois Estados vizinhos.

"As condições para alcançarmos uma maior prosperidade são um dividendo da paz. Outro é o respeito pelos direitos humanos", frisou.

Taur Matan Ruak defendeu, depois, a urgência "de dar novos passos" para a "solução pacífica e negociada da situação do povo saaraui nos termos do espírito de Bandung e dos princípios das Nações Unidas".

"Secundamos o apelo a favor do reconhecimento diplomático do estado da Palestina e do apoio ao povo palestiniano para realização sem delongas do direito à autodeterminação e à liberdade", acrescentou, referindo-se ao apoio à independência da Palestina que deverá sair da cimeira.

"A nossa maneira de pensar o mundo e nele agir tem de ser reequacionada", considerou, lembrando que há 60 anos os países que assinaram a conferência de Bandung em 1955 defendiam "as aspirações mais profundas dos povos em busca de mais segurança e bem-estar.

"A coexistência pacífica e o respeito mútuo entre os estados, a não-ingerência nos assuntos internos dos países, na rejeição de todos os atos ou ameaças, são valores que têm de ser promovidos cada vez mais, mesmo nesta nova conjuntura agora marcada pela imprevisibilidade e pela incerteza", advogou.

Os líderes dos países africanos e asiáticos procuram nesta cimeira, que terminará na sexta-feira em Bandung, revitalizar os princípios defendidos em 1955, altura em que lutavam contra a opressão colonial e o domínio das principais potências mundiais e defendiam a independência, a paz e a prosperidade económica dos estados dos dois continentes.

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