Durante as duas primeiras sessões do julgamento, os intérpretes erraram várias vezes nas traduções entre português e tétum, e vice-versa, levando os juízes, o Ministério Público e até membros do público presente a sugerir correções.

Em alguns casos os tradutores chegavam mesmo a interpretar o que era dito pelas partes, em vez de se limitar a traduzir, atrasando todo o processo causando confusões, por exemplo, na interpretação de requerimentos apresentados.

Apesar da confusão o coletivo de juízes liderado por José Maria Araújo rejeitou os pedidos tanto da acusação, liderada pela procuradora Angélica Saldanha, como da defesa de Emília Pires - os advogados portugueses Frederico Bettencourt Ferreira e Carolina Mouraz e o timorense José Camões - para nomear novos intérpretes.

Emília Pires começou a ser julgada na segunda-feira, em Díli, acusada da prática de crimes de participação económica em negócio e administração danosa quando ainda era ministra.

Pires e a ex-vice-ministra da Saúde Madalena Hanjam são arguidas por alegadas irregularidades na compra de centenas de camas hospitalares em contratos adjudicados à empresa do marido da ex-ministra das Finanças, com um suposto conluio entre os três para o negócio, no valor de 800 mil dólares.

O julgamento tinha sido adiado a 23 de março depois da apresentação pela defesa de Emília Pires de vários recursos por alegadas irregularidades, entretanto indeferidos.

A acusação tem previsto ouvir 24 testemunhas, sendo a mais destacada Nelson Martins, ex-ministro da Saúde, que começou a ser ouvido hoje.

A defesa tem cerca de duas dezenas entre as quais vários notáveis timorenses incluindo os ex-presidentes da República Xanana Gusmão e José Ramos-Horta, o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri, o ex-ministro da Saúde Sérgio Lobo e a deputada Fernanda Lay.

Recorde-se que, em setembro a defesa de Emília Pires já tinha solicitado ao tribunal nomear um intérprete seu, ideia que hoje foi apoiada pelo Ministério Público que chegou a pedir para trocar de tradutor, mas que o juiz rejeitou, alegando que os tradutores eram experientes.

A confusão dos intérpretes foi ainda maior na sessão de hoje, quando começaram a ser ouvidas as primeiras testemunhas da acusação, levando a defesa a pedir para que os tradutores fizessem um juramento de honra, algo também apoiado pelo Ministério Público.

O tribunal inicialmente aceitou, pensando - por erro do tradutor - que se tratava de jurar uma assessora da equipa de defesa, que estava a ajudar traduzir, mas depois, quando a questão foi clarificada, rejeitou, alegando que os tradutores já tinham jurado quando tomaram posse.

Perante isto a defesa apresentou um novo requerimento, alegando que se o juramento não fosse feito poderia estar-se perante um vício processual. Perante a recusa do tribunal avançaram para um recurso, insistindo que não deveria ter carater suspensivo.

Os primeiros dias ficaram ainda marcados por requerimentos do Ministério Público e da defesa de Madalena Hanjam para juntar novos documentos ao processo - que têm ainda que ser solicitados a várias entidades timorense.

Foi ainda ouvida a primeira testemunha da acusação, Manuel Silva Sousa, chefe de logística do Hospital Nacional Guido Valadares, que confirmou que as camas estavam todas a ser utilizadas, eram de grande qualidade e estavam em perfeito funcionamento.

O tribunal começou a ouvir Nelson Martins que confirmou a necessidade da compra das camas e que explicou que todo o processo de compra foi aprovado pelo então primeiro-ministro, Xanana Gusmão.

A audição das testemunhas da acusação deverá prolongar-se em várias sessões até pelo menos 13 de outubro devendo o julgamento ser retomado depois a 3 de novembro, altura em que poderão começar a ser chamadas as testemunhas da defesa.

ASP

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