"Penso que os cientistas vão passar a olhar de forma diferente para Plutão, porque estamos na posse de muito mais informação", declarou à agência Lusa Alice Bowman.

A cientista está na ilha de São Miguel para proferir hoje uma conferência, na academia açoriana, sobre exploração espacial, subordinada ao tema "Reaching for new horizonts" (Em busca de novos horizontes), a convite do Consulado dos Estados Unidos em Ponta Delgada e em parceria com o American Corner, da Universidade dos Açores, e Observatório Astronómico de Santana.

A agência espacial norte-americana NASA divulgou, a 25 de julho, novas imagens de Plutão, captadas pela sonda New Horizons, que revelam que o planeta-anão está coberto por uma névoa. A sonda, que passou perto do desconhecido Plutão, numa missão que arrancou há quase uma década, continua a enviar informação para a equipa da NASA.

A docente da Universidade de Maryland, nos EUA, recorda que os cientistas e engenheiros "sempre quiseram ir a Plutão e a sítios" onde a humanidade nunca antes chegara.

"O sistema de Plutão é muito rico, sendo constituído por cinco luas, é um sistema binário, daí que se desenvolva num ponto no espaço fora do planeta", declara a cientista.

As luas são muito diferentes, segundo Alice Bowman, sendo que Charon "é enorme e muito diferente, em cor e no terreno", de Plutão.

Considerando que se está perante um sistema "muito interessante", com o qual a comunidade científica pode aprender muito, a gestora de operações da NASA alude à existência de água em montanhas de gelo, sobre as quais ainda não se sabe muito.

"Mas tenho a certeza de que os cientistas vão surgir com muitas teorias. Agora sabemos como o planeta mais longínquo, que vemos como um planeta clássico, é na realidade. Mas o que deve prevalecer na nossa mente é que não há nada como sair do nosso planeta e explorar", afirma a cientista.

Apesar de haver poderosos telescópios na órbita do planeta Terra, a norte-americana considera que distâncias como Plutão são enormes para que se consiga imagens detalhadas, o que só se pode alcançar com sondas, daí que esteja convicta de que a missão New Horizons vai estimular a vontade de seguir em frente.

Alice Bowman declara que não é relevante se Plutão vai ser agora reclassificado como planeta (é considerado o planeta-anão), uma vez que se trata de um tema "muito interessante de estudar" e de "ver em primeira mão".

Sobre a possibilidade de se realizar uma missão humana ao planeta, a cientista recorda que Plutão fica a uma grande distância e que, quando o encontrámos, estávamos a quase cinco biliões de quilómetros de distância da Terra, tendo a New Horizons levado nove anos e meio para lá chegar, movendo-se a velocidades gigantescas.

"Penso que a única forma que teríamos de enviar uma missão tripulada a Plutão era conseguirmos encontrar uma forma de viajar realmente muito rápida. Marte será mais fácil para os humanos. Não estou tão certa em relação a Plutão enquanto não formos capazes de desenvolver novas tecnologias", frisa a cientista.

Alice Bowman está convicta de que há muito mais para partilhar em relação a Plutão, uma vez que há ainda muita informação a bordo da aeronave para visionar.

Plutão tem céu azul, além da água gelada. As partículas que compõem as camadas de neblina de Plutão são, em si, cinzentas e vermelhas, mas a forma como disseminam luz azul chamou a atenção da equipa de cientistas da missão operada pela NASA.

JYAM // MAG

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