"Não (há centros de treino). Há inúmeras mesquitas, muitos irmãos e nunca ouvi ninguém a abordar essa questão. É uma coisa fora de questão. É conversa fiada", disse Paulo Augusto Vieira, presidente da Comunidade Islâmica de Cabo Verde (CICV), à saída de um encontro com o chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca.

"Às vezes é para criar pânico. As pessoas têm de ser responsáveis pelo que dizem. Uma pequena palavra pode causar destruição. E há coisas que têm acontecido no mundo por causa de pequenas palavras, que têm causado destruição de pessoas e de outras coisas", alertou.

Paulo Vieira não explicou, porém, as razões para a vontade de criar pânico.

A comunicação social cabo-verdiana tem, amiúde, avançado notícias em que coloca Cabo Verde como um dos países da África Ocidental que acolhe centros de treino de radicais islâmicos, informações sempre desmentidas pelo Governo local.

O líder dos muçulmanos cabo-verdianos, natural da ilha da Boavista e convertido ao Islão há cerca de 10 anos, negou que Cabo Verde possa ser um "alvo" de ataques de radicais islâmicos, considerando que tal está também "fora de questão", lembrando, contudo, que nunca se sabe o que cada um pensa, independentemente da religião.

"Isso está fora de questão. Mas também não sei o que se pode passar pela cabeça de cada um. Tanto no Islão, como no Judaísmo, no Cristianismo, há pessoas com ideias extremistas em todo o lado. Por isso, esse é uma pergunta que não posso responder. Não temos informações sobre isso", sustentou, adiantando que o arquipélago cabo-verdiano acolhe "bem" a comunidade islâmica no país.

Questionado pela agência Lusa sobre o que pensa das atividades do grupo radical Estado Islâmico, Paulo Vieira afirmou não saber responder à pergunta, que considerou "difícil".

"Não sei responder a essa pergunta. É uma pergunta difícil. Eu estou em Cabo Verde e eles estão na Síria e no Iraque. Há o que a comunicação social tem falado, mas sobre isso não consigo responder", afirmou.

Para Paulo Vieira, em Cabo Verde, onde existem cerca de três dezenas de mesquitas para os cerca de 3.000 muçulmanos, as leis são "claras" e as autoridades estão presentes quando alguém transgride as leis, seja ele muçulmano, judeu ou cristão.

"Não temos nada para nos queixar. Apelamos aos nossos irmãos para boas práticas, bons comportamentos, para respeitarem as leis. Esse é o nosso maior objetivo. Boas práticas, bons exemplos", salientou, desvalorizando os "insultos" que, de vez em quando, os muçulmanos em Cabo Verde são alvo.

"Há sempre alguma discriminação, tal como em todo o lado. Mas depende de cada um de nós. O Islão é uma religião, é um comportamento, é uma adoração, uma relação entre cada um de nós e Deus. Cada um tem de ter bom comportamento e boa conduta. O nosso objetivo é mostrar o verdadeiro Islão", acrescentou.

Segundo Paulo Vieira, a preocupação maior da CICV é a união dos muçulmanos em Cabo Verde e no mundo inteiro e a divulgação do Corão, uma vez que o Islão é uma "religião de paz".

"O mundo é uma violência, que não vem só de muçulmanos, há sempre inimigos. Ou muçulmano, ou judeu, ou cristão, ou ateu, mas há leis. Para quem transgredir as leis há a autoridade para fazer a justiça", defendeu, quando instado sobre se é normal o Islão ser associado muitas vezes ao terrorismo e à violência.

"Há algumas pessoas que nos insultam, sem conhecimento, sem fundamento, mas não sentimos aquela grande pressão, ou uma grande discriminação mais radical.

Temos mesquitas e o Governo nunca nos criou problemas", acrescentou.

Sobre o encontro com o presidente cabo-verdiano, que o considerou um "homem muito aberto e que conhece bem as leis", Paulo Vieira disse tê-lo informado sobre os "objetivos" da comunidade, demonstrado "abertura" para colaborar no desenvolvimento do país e garantido que "não há nada a temer" da parte da CICV.

"(Jorge Carlos Fonseca) disse que, no país, todas as religiões são iguais, que Cabo Verde é um país laico e que as leis são claras. Disse que está disponível para o que for necessário e foi por isso que dissemos que pretendemos uma maior aproximação, para dar a conhecer o que somos e como somos", concluiu.

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