Gabriel Mbilingi, igualmente presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (SECAM), falava aos jornalistas num intervalo do seminário "África e Desenvolvimento Sustentável", que decorre na Ribeira Grande de Santiago, 12 quilómetros a oeste da Cidade da Praia, em Cabo Verde.

"É um fenómeno que cria muita tensão, que pode ter consequências imprevisíveis, também pela forma como está a ser abordado, até pelas autoridades, o que também deixa uma certa preocupação. A Igreja Católica acompanha este dado triste em Angola com bastante preocupação e tem o compromisso de ajudar na busca de soluções", afirmou Gabriel Mbilingi.

Para o arcebispo do Lubango, o "fenómeno" registado no Huambo em torno da seita religiosa está a causar "muita consternação e preocupação" não só na Igreja Católica, maioritária em Angola, como também na própria população.

"Quando a religião é falsificada e cede a objetivos que não o tornar possível o Evangelho presente na vida das pessoas e das comunidades, isso desvirtua em muito a finalidade de uma religião", acrescentou.

Os tumultos no Huambo tiveram início na quinta-feira passada, com a morte de nove polícias e de 13 elementos da seita religiosa, no município da Caála, quando as partes entraram em confronto, na tentativa dos efetivos policiais em capturar Julino Kalupeteca, líder da seita, ilegal e que advoga o fim do mundo em 2015.

Contudo, a Polícia Nacional garantiu que a situação está controlada, apelando calma à população e para que denuncie qualquer movimento dos seguidores da seita religiosa, que acusam de pretender implantar o caos e o terror nas comunidades.

Hoje, e questionado sobre o extremismo islâmico que tem estado a ser protagonizado por organizações como o Boko Haram, Gabriel Mbilingi respondeu que é o "cristianismo", no seu todo, que "está a ser atacado".

"É o cristianismo no seu todo que é atacado. Não é só a Igreja Católica ou a Igreja Protestante, mas sim a religião cristã. Este grande ódio à Cruz do Senhor e a tudo aquilo que é a fé em Jesus Cristo não deixa de nos preocupar", frisou.

"Temos a missão de dialogar com outras religiões, mas não há uma cara do outro lado. Sabem que estão a fazer ações de ninguém se orgulharia de fazer, trazem mal estar, acabam por empobrecer muito mais o continente, aumentam o número de refugiados, deslocados e pobres, aumentam o fosso entre ricos e pobres e isso tudo vindo de uma religião que deveria contribuir para a paz e desenvolvimento", concluiu.

JSD // PJA

Lusa/Fim